Para refletir...

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Álcool: Da perfeição da biologia para a um problema humano.

A caracterização depreciativa da palavra “álcool” por muito, pode ser tida como errônea, na medida em que tal substância trata-se um composto orgânico, ou seja, que naturalmente é sintetizado pelo metabolismo celular e utilizado como fonte de energia. Além da importância do composto químico para a célula viva, o álcool ainda é substrato energético para fins mecânicos, que é o caso, por exemplo, dos motores movidos a tal.
Todavia, apesar de ser parte de um processo biológico que sempre fez parte do organismo vivo, o de fermentação, uma das descobertas mais antigas de produção do homem foi a fermentação alcoólica, mais tarde evoluindo para a destilação, com os árabes e, posteriormente para a adição, propriamente dita, deste composto em algumas bebidas e alimentos, a fim de aperfeiçoar os sabores e a sensação de bem-estar. Algumas datas mostram que em civilizações do Egito e da Babilônia, cerca de 6000 anos atrás, já eram utilizadas bebidas alcoólicas nas mais diferentes ocasiões possíveis.
É evidente que desde as primeiras sociedades que adotaram o álcool em sua dieta, ou pelo menos em parte dela, o consumo se tornou cada vez mais freqüente e, pasme abundante em questões quantitativas. É só ligar a televisão em qualquer horário, aguardar a sessão de propagandas e logo começar a assistir algum anúncio de cerveja ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica e, com a sarcástica frase ao final: “Consuma com moderação” ou “Se beber, não dirija.” Ironia ou não, a maioria dos acidentes automotivos no trânsito urbano brasileiro ainda são ocasionados ou tem algum tipo de ligação com o consumo de álcool. Aliás, é justamente por crescente ingestão alcoólica que hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece parâmetros do consumo leve, moderado e excessivo de álcool, com concentrações que variam de 210g-510g (21-51 unidades) de álcool por semana para o público masculino e 140g-360g (14-36 unidades) por semana para o público feminino.
A epidemiologia é importante caractere do abuso e da dependência que muitos exercem perante a bebida alcoólica, deixando-a em segundo patamar no que diz respeito a causas de internações psiquiátricas e em quinto lugar no ranking de causas de mortes segundo a Universidade de Bristol, na Inglaterra, gerando desta forma um problema não unicamente localizado e tampouco individual, mas sim, de saúde pública.
Apesar de ser uma droga liberalizada em grande parte dos países, ainda é lei que seu consumo seja efetuado apenas por indivíduos com maioridade penal (que varia de 18 a 21 anos na maioria dos casos). Contraposto a isto, na modernidade contemporânea, o consumo de álcool tem sido inserido nas diferentes culturas cada vez mais cedo pelos próprios consumidores ignorantes ou assunto ou irresponsáveis, propriamente ditos. E não é anormal se ver festas de 15 anos regradas a algum tipo de bebida alcoólica ou até mesmo crianças de 10 ou 12 anos experimentando alguns goles de vinho quente em uma quermesse de festa junina. O costume de usar quaisquer tipos de substâncias que alteram os estados psíquicos e emocionais, em tempo, ocorre desde as mais antigas datas remotas nas mais diferentes regiões do mundo.
O poder do álcool é extremamente amplo no setor neuroativo do corpo humano, o que possivelmente pode justificar seu consumo cada vez maior. Estudos na Universidade da Carolina do Norte, por exemplo, mostram que os danos cerebrais no lóbulo frontal do cérebro em ratos adolescentes, submetidos à bebedeira por quatro dias, chegou a ser duas vezes maior do que quando comparados a indivíduos em idade adulta. Ainda no caso do álcool é possível citar eventos físicos como a sensação de sedação e relaxamento, diminuição dos reflexos e, teoricamente, do estresse, inibição de sinapses nervosas e perda do senso de medo/perigo (fazendo com que o indivíduo tenha ações que não teria em níveis normais de consciência, o que atrai ainda mais alguns públicos específicos, como os adolescentes e jovens) e muitos outros.
E são justamente esses indivíduos acostumados a beber desde cedo e, aliados a algum tipo de distúrbio genético, os mais propensos a desenvolver algum tipo de patologia a curto e/ou longo prazo relacionada ao consumo exagerado de bebida alcoólica podendo ser desde uma hipoglicemia, intoxicação e coma alcoólico, obesidade, pelas calorias vazias e excessivas que o álcool fornece (7,1 Kcal/g), cirrose hepática, pela destruição de organelas celulares presentes nos hepatócitos ou até mesmo problemas psíquicos como o tão grave alcoolismo e decorrente a isto, a dependência psicológica e física tendo em uma cascada de eventos e problemas como a abstinência, a perda de bens financeiros, perda de família e até mesmo de identidade própria. Isto é, se uma patologia não vir por desencadear outra ou outras.
O que é morte para você? Possivelmente, há de responder que é perder o fôlego da vida e ter a parada de órgãos importantes e controladores do corpo humano, como o coração e o cérebro, não é mesmo? Pois bem, morte na verdade pode ser entendida como estar com o fôlego de vida presente e viver como um pífio sobrevivente, para nada, em vão, sem construção. É como ter o coração funcionando e esquecer-se de seu valor. E, valor este que é determinado pelo que se é juntamente pelo que se acredita e entende como certo e não unicamente por uma pressão exercida pela mídia ou pela sociedade. Buscar a liberdade (ou pseudo-liberdade) em aspectos prejudiciais a si mesmo, como a velha desculpa de “beber para se divertir” ou “beber para se libertar” deveria entrar como foco para o alerta mundial e individual também.
Mas afinal, o que se fazer em uma situação alarmante e descontrolada onde a saúde própria e pública, as ações sociais e a interação com o ambiente externo estão se desmoronando? Certamente, não é possível condenar o João que bebe aos finais de semana, o Joaquim que bebe todos os dias sua dose de cachaça, a Maria que socializa no barzinho as sextas-feiras com as amigas, o Rodrigo que bebe todas as noites nas reuniões de negócio ou até mesmo o Adrianinho de 11 anos que foi em todas as quermesses do bairro para tomar alguns goles de vinho quente com os amigos. Estes são meramente consumidores que por imposição interdependente (erroneamente ou acertadamente) tomam suas próprias decisões. Condenar o álcool? Jamais! Ele também faz parte da vida, como já dito. Intermitentemente, o foco deve ser visto muito mais além do que unicamente o consumo de bebida alcoólica, mas sim, em um estado amplo de ética no marketing, educação e principalmente em primeiro plano, conscientização. Caso contrário, o marasmo das campanhas preventivas críticas e o anúncio da “gelada do Futebol” na televisão logo em seguida, continuarão os mesmos e cada vez mais emergentes na crescente degradação, desta vez, não das hidroxilas aos carbonos saturados, mas sim, humana.

Marcelo Sendon

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