Para refletir...

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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Letícia (Parte 1)




Conheci Letícia pela internet em um desses chats comuns de sites gratuitos durante uma tarde de tédio onde as opções mais inúteis são as únicas que sobram para algum divertimento ou simplesmente para matança do tempo. Pareceu-me a princípio uma pessoa normal. Estudava e ainda não trabalhava. Cursava arquitetura em uma boa faculdade gaúcha. Sua aparência, explicitada pelas fotos com nuances de cor reajustados, dispensava quaisquer comentários: Loira de cabelos lisos, olhos cor de mel, boca carnuda e pequena, estatura média e um corpo realmente desenhado por um bom arquiteto natural, detalhista e cuidadoso; diria eu, perfeccionista.
Em poucas palavras, conhecemos alguns interesses em comum: A música celta, o teatro de Gil Vincente, os seriados de televisão e até mesmo alguns pratos franceses como o Gigot D’Agneau. Mas o que mais nos ligou, de fato, foi o interesse em comum por uma coisa incomum chamado “conto erótico”...
A princípio é estranho conhecer e saber que alguém se interessa por esse tipo de assunto. Mas tal, nada mais é do que um gênero literário como qualquer outro. O que deturpa não é o ato de imaginar coisas relacionadas ao sexo, pois se trata de um evento biológico e natural dos animais, mas sim a forma como isto é observado, imaginado e utilizado. Tenho que confessar que não sou nada fã de contos eróticos que mais parecem um jogo de futebol, cheio de palavrões e conflitos de baixo calão.
De qualquer forma, após o primeiro dia, ainda mantivemos contato. Era tempo de férias e o que me restava era perder algumas horas na internet com aquela loira um tanto quanto desenhada a mão. Os gostos parecidos ajudavam muito a manter um assunto coeso e linear. Era excelente conversar com uma pessoa culta e, ao mesmo tempo tão bela. Até meus amigos, provavelmente por curiosidade, perguntavam-me a respeito de uma nova mulher no meu site de relacionamentos. A desculpa era sempre a mesma: “Uma amiga, apenas.” E de fato era. E é.
Dizem que as pessoas têm características conforme seus nomes e, minha mãe já dizia que toda Letícia é meiga e um tanto quanto fresca. E esta, não era diferente, mas ela sabia medir as proporções e se tornar uma pessoa que o faz-se entreter por horas sem nem ao menos notar o relógio. Parecia que eu conseguia de alguma forma senti-la ao meu lado quando conversávamos a quase 1200 km de distância. Sim, Letícia era de Santa Cruz do Sul, uma cidade do Rio Grande do Sul. E eu, aqui, de São Paulo, bem na capital agitada.
Naquelas duas semanas de férias que me restavam naquele mês, consegui me tornar, de algum jeito, um amigo próximo de Letícia. E eu sabia que ela estava tornando-se importante nos meus dias. Mas como férias, em alguns casos, nos deixam mais carentes, preferi manter a postura e a boa amizade oferecida por ambas às partes...
A bela moça de 21 anos me teve nesses poucos dias como uma espécie de confidente. Contara-me sobre seus problemas de relacionamentos e o quão estava decepcionada com seu último parceiro que a deixara em uma mesa de restaurante e, no mesmo lugar, traíra-a com uma de suas amigas, no banheiro do estabelecimento. Era impossível acreditar que alguém pudesse fazer isso com uma mulher daquelas! Que tipo de homem poderia ser tão cruel e ao mesmo tempo tão tolo para perder uma jóia dessas? Então, restou-me consolá-la com algumas ladainhas já conhecidas por todos.
No último domingo, da última semana de férias, avisei-a que iria ausentar-me por um certo período, pois retornaria ao meu trabalho num consultório de advocacia que já tomara grande parte do dia e, até mesmo vida. Mas promete manter o máximo de contato possível, pois tinha admirado demais sua amizade (e não só a amizade...). E ela, como sempre, de maneira doce e compreensível, aceitou (ou concordou)...
Inevitavelmente a agitação e correria do meu trabalho com os estudos da moça fizeram com que o contato quase que diminuísse a zero. Mas eu lutava, pelo menos aos finais de semana para ter uma ou duas horinhas com Letícia na tela de um computador. E eu sentia que ela também batalhava ou dava seus pulos para esses poucos momentos também. Modéstia parte, isso me animava tanto quanto me causava dúvida: Será mesmo que Letícia estaria começando a se interessar por mim o tanto quanto eu estava me interessando por ela? Talvez a moça pensasse que era só mais um daqueles amigos gays que elas podem desabafar. Mera ilusão dela...
Nos quase seis meses que decorreram daquele ano, a ligação se tornava cada vez mais forte a ponto de cogitarmos a hipótese de, nas férias seguintes, passarmos alguns dias eu na casa dela ou ela em minha casa. Talvez um tanto quanto cedo para isso, mas já faz algum tempo que tal fato ocorreu e, não havia tanto crime e violência como se tem hoje, em plenos anos 2000...
Juro que ainda estava perturbado com as dúvidas a relação do que a moça realmente sentia por mim. Se fosse somente amizade, eu teria de fazer isso se transformar em mais um de meus surtos e esquecer qualquer outra intenção. Mas se, por ventura ela estivesse transformando isso tudo em desejo, eu realmente teria de dobrar os joelhos e agradecer muito a Deus pelo presente ganhado...

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