Para refletir...

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Letícia (Parte 4 - Final)

Ainda na porta do quarto do hotel, Letícia pediu para que entrasse... E assim fiz.
A cena que tive logo de cara, foi um quarto um pouco (muito) bagunçado, talvez sujo e, no sofá-cama, um marmanjo loiro, jogado, falado algumas bobagens enquanto delirava em um profundo sono alcoólatra.
A música ambiente que tocava, não me agradava muito. Era uma dessas bandas de rock dos anos 90. Acho que Guns n’ Roses. Enfim...
Era difícil observar tudo aquilo, pois meus olhos tinham uma única direção: Letícia.
Assim que entrei em algumas conversas fiadas, sentamos ao lado do moço que babava e Letícia me serviu um copo de espumante barato. Pediu desculpas pelo que havia ocorrido. Gentilmente, desculpei-a e disse que não havia problema algum, visto que o foco não era a cafeteria, mas sim, conhecê-la pessoalmente.
Aquele ar provocante de Letícia durante as conversas, me fazia delirar por dentro em calafrios e imaginações. Mas tinha que bancar o homem sério e, o amigo...
Perguntei a respeito do namoro com Breno. Supreendentemente, ela pediu para que não falássemos dele e em uma ação rápida e certeira me puxou pela camisa de gola italiana em direção a ela mesma.
Já não entendia nada do que estava acontecendo. Poderia estar Letícia um tanto quanto alcoolizada também?
Sempre fui do tipo careta e conservador e aquilo me deixou assustado, pois a moça estava bem ali, com seu namorado e, ao mesmo tempo tendo uma atitude dessas.
Quando menos esperei, em voz baixa...
- Deixa ele ali. Me beija!
- O que? Mas... Mas... – Mal conseguia respirar de tão perto que minha face estava da dela.
- Mas nada! É você que eu quero estar noite! – Falou em tom baixo de mulher.
Quando menos esperava, meus lábios já tocavam os dela. Minha mão, já percorria seu corpo doce e desenhado.
Ela parecia eufórica, porém segura. Parecia outra pessoa, muito longe daquela menininha que havia eu conhecido.
Suas mãos corriam por minha camisa, calça...
As bocas se afogavam em beijos sufocantemente molhados e deliciosos. Eu podia sentir o gosto que 21 anos de vida haviam preparado em uma mulher. Podia sentir aqueles ferormônios sexuais.
Perdi o controle como em um passe de mágicas. Me entreguei ao sentimento, digo, ao prazer, mesmo sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo.
Já sem o cinto da calça e Letícia sem seu vestido, mas ainda de Langerie, fui arrastado até a cama velha do hotel.
Temendo por Breno, parei a cena e indaguei-a novamente sobre o moço..
- Não é a primeira vez que acontece isso com ele... Psiiiiiu...
Não agüentei. Era uma força maior que a minha, era uma vontade incontrolável!
E poucos minutos, já não havia mais roupas no meu corpo. Apenas, partes íntimas.
Com meu corpo, em cima do dela, fazendo uma leve pressão e sentindo aquele calor gostoso, ouvi uma coisa que me causou um emaranhado de sentimentos prepotentes, bons e mais alguns punhados de sensações:
- Eu espero que isso não mude absolutamente nada... Eu espero que você não ache tolice da minha parte... mas devo admitir que mudei nos últimos tempos. Mas mudei por fora. Eu sou a mesma pessoa e espero que você entenda isso... Nunca havia lhe contado isso antes, mas todo tempo que conversamos, algo me ligou a você e acho que é a você que quero dar esse presente.
- Como? Não entendo, Lê...
- Esta é a minha primeira vez...
- O que? – E houve um silêncio momentâneo, trocado por olhares profundos.
Foi realmente um choque para mim. Não havia o que responder. Não havia o que dizer naquele momento. Não podia acreditar em uma moça daquela idade e... Casta! Não poderia imaginar que mesmo com toda aquela mudança fenótipa, ainda havia um vestígio daquela menina inocente que conheci.
- Você tem certeza disso? É isso mesmo que você quer? Eu, eu... – Novamente fui surpreendido por um beijo molhado, entrelaçado a um olhar brilhante de pedido.
- Ok...
Pouco a pouco fui despindo aquele corpo branco, refrescantemente perfumado e aveludado. Sentia cada parte dele com os lábios. E, mesmo com um pouco de medo ou insegurança por não saber bem o que fazer, Letícia retribuía.
O suor de ambas as partes já se misturavam naqueles lençóis. Gemidos e suspiros baixos, aliados ao atrito entre as peles eram a sonoridade local, já sem música. Aliás, a única música que ali tocava era a da vontade e do desejo, aliada ao medo e insegurança.
E eu fui o primeiro a tocar aonde jamais, além dela, alguém havia tocado. Eu fui o primeiro a sentir aquele sabor característico que deixa qualquer macho (não mais homem), louco...
Na hora principal, perguntei novamente sobre sua certeza. Meu jeito conservador ainda acreditava que ela deveria ter total certeza do que estava acontecendo, mesmo nem eu tendo noção do que, de fato, estava acontecendo...
Apenas balançou a cabeça dizendo sim.
E cada centímetro ali, chegando ao objetivo, era um novo suspiro e uma satisfação. E todo homem sabe o quanto é satisfação, não proporcionar a primeira vez, que é apenas um processo normal e natural da vida, mas receber o presente da confiança.
Num último suspiro, desta vez mais alto, o início de uma nova vida havia tomado seu ponto de partida.
A partir dali, ainda aconteceram mais alguns minutos e alguns pontos máximos de uma relação. Isso, por algumas horas.
Após delírios, abraçados e satisfeitos na cama velha do hotel, começamos a conversar.
E Letícia me explicou que, estar com Breno era apenas status e que isso falava muito alto dentro de sua faculdade... E ela precisava desse status para manter-se sempre a par dos benefícios entre a turma. Porém, respeitava-o. Não fazia isso com ninguém. Mas que eu era uma pessoa totalmente diferente das outras. Havia se tornado muito mais que um amigo virtual. Havia se tornado talvez, o amor platônico.
E aquele presente, seria difícil ser dado a alguém além de mim...
Mantive a pose. Não quis revelar meus segredos. Meus instintos diziam que fazer isso, seria perder a rendição da moça e entregar a minha de bandeja. Apenas fui carinhoso suficiente para fazer tudo parecer bem. Consolei-a psicologicamente também.
E Letícia, adormeceu a cabeça, com os cabelos loiros, lisos e um pouco molhados em meus braços suados. Despida, mas não como veio ao mundo...
A cena que podia observar era Breno, em nossa frente, em um sono extremamente profundo, Letícia, adormecida como um anjo em meus braços e, ao redor... Bagunça!
Já eram 5 da manhã e o medo que Breno pudesse acordar, não me deixou dormir. Fiz vigília naquela noite. Esperei mais uma ou duas horas e por prudência, decidi acordar Letícia e sair o mais rápido possível. Não por ela, jamais, mas pela situação de seu namorado. Com um café da manhã encomendado na portaria do hotel, dei um beijo de bom dia ainda em cima da cama. Perguntei como a moça se sentia.
- Uma mulher! Maravilhosamente bem!
Aquilo realmente foi satisfatório. E assim, expliquei à ela que teria de ir pro segurança dela mesma, que rapidamente concordou.
Em algumas despedidas rápidas, Letícia disse que não teria sido a última vez. Que voltaria naquele mesmo dia para sua cidade, mas que queria me ver novamente. Prometeu ligar-me quando chegasse.
Dei mais um longo e demorado beijo e desci as escadas de carpete do tal hotel.
Peguei meu carro com um belo sorriso e pensamentos na mente e fui dirigindo em direção a minha casa. No caminho, ainda recebi uma mensagem de agradecimento da menina que havia se transformado em mulher ou, que EU havia transformado em mulher. (Não podia deixar de salientar esse fato.)
Chegando a meu recinto, dormi. Havia passado a noites em claro, o que me deixara fisicamente cansado. Claro, mentalmente ainda era uma coisa nova e uma confusão pra mim. Mentalmente, também encontrava-me um tanto quanto esgotado.
Acordei por volta das 15:00 h daquela tarde. Fui direto ao celular ver se havia algo. Nada. Decidi mandar uma mensagem para saber sobre a partida da moça. E não obtive resposta.
Imaginei que, provavelmente, devesse já estar na estrada sem sinal. Esperei algumas horas e, na internet fui buscar o tempo de viagem. Assim, poderia ter noção de quando Letícia chegaria lá.
As horas se passavam e já eram 20:00 h daquele mesmo dia cinzento. Letícia não havia respondido, o que não era natural da moça. Fiquei calmo. Letícia também deveria estar muito cansada.
Liguei a televisão e, como de costume, fui assistir a um desses jornais sensacionalistas que passam todos os dias.
O que passava era uma notícia de um tal acidente em uma rodovia. Quanta desgraça! Mudei de canal. Propagandas...
Voltei ao canal do meu telejornal preferido e a notícia, ao vivo ainda era a mesma. Parando para observar, vi nas imagens um ônibus virado e queimado quase que por completo. Uma multidão de viaturas policiais cercavam o local e, como de praxe, um tremendo trânsito.
Meu coração disparou no exato momento em que comecei a ligar os fatos. Mas aquilo deveria ser só coincidência. Seria muito azar se...
Corri ao celular e tentei diretamente ligar para Letícia. Meu coração apavorado me fez buscá-la em qualquer amigo no site de relacionamentos para entrar em contato com ela ou, para pedir algum tipo de notícia...
Comecei a observar que em alguns dos amigos mais próximos dela, havia uma mensagem em comum de luto.
MAS LUTO POR QUÊ?
As lágrimas começaram a cair e o desespero tomar conta da minha calma. Mandei um recado e logo obtive resposta...
E o que eu temia, havia acontecido. O ônibus que Letícia e Breno viajaram havia perdido o controle e, uma das vítimas fatais foi Letícia...
Era difícil explicar o sentimento momentâneo. Era difícil saber o que fazer, o que dizer... Talvez aquilo fosse mais difícil, muito mais, do que havia passado na noite anterior.
A solidão consumiu meu corpo, minha mente, meu espírito.
Mas e Breno? Sim, ele estava vivo! Confesso que primeiramente a vontade foi de pensar: “Porque ela ao invés dele?” Todavia, quis eliminar esse tipo de sentimentos de minha mente.
Foram noites mal dormidas, foram dias mal trabalhados, foram horas perdidas em pensamentos e orações.
Quase um mês depois, um pouco mais aliviado, ou conformado, fiz algo que nem mesmo eu poderia imaginar que um dia pudesse fazer. Entrei em contato com o tal rapaz para prestar sentimentos e saber o que estava acontecendo. De ma forma ou de outra, ele também havia ajudado-a a ter uma vida um pouco mais fácil ali na faculdade. Mais que isso, fui diretamente até lá. Isso não era coisa para se falar por telefone.
Foi difícil tomar essa decisão e foi difícil encontrar o rapaz também. Mas quem tem boca, realmente vai a Roma. E encontra o Imperador. Não foi diferente...
Ele havia mudado de faculdade encontrava-se numa outra, ali na cidade mesmo. Entrei em contato e fomos conversar em uma tarde.
Ele estava mais magro, um pouco debilitado e ainda com olheiras. Talvez devesse cotá-lo sobre a receita dos pepinos e batatas. Não! Não era isso que ele precisava!
Ele não precisava de receitas desse tipo, mas precisava de um apoio.
- Olha... Eu sei que você era amigo dela... Eu gostava muito dela, talvez a amasse mais do que já havia amado alguém Não sei se ela estava comigo por status, mas eu não estava com ela por este motivo. Acabei amando-a. Ela foi meu primeiro amor.
Não sabia o que responder. Via sinceridade no moço e ele já não me soava mais como um vilão, mas como uma vítima. Comecei a sentir-me culpado. Deveria contar o que havia acontecido?
- Acho que nem ao menos gostar de mim ela gostava tanto... Nunca nem chegamos às vias de fato. Ela sempre dava uma desculpa qualquer... Ela era experiente pelo que me dizia... E não pude provar dessa experiência toda.
Uma ou duas lágrimas rolaram por sua face.
Como em um golpe rápido e por impulso, contei toda a verdade e, naquele instante, quem chorava era eu.
Dois homens, ali, naquele banco de uma padaria nobre, chorando feito crianças mimadas.
Desculpei-me. Pedi desculpas.
Surpreendentemente, ouvi:
- Cara! Você a fez a mulher mais feliz do mundo. Não guardo rancor. Eu amava-a e queria a ver feliz. E você conseguiu isso. E não importa como, se a fez feliz, devo gratidão por você... Aprendi com ela que quem, verdadeiramente ama, deseja a felicidade do amado sem querer nada em troca...
E ali conversamos nesse tom... Assustado estava eu. Antes, com medo de levar uma enorme bordoada e uma porção de esporros. Agora, novamente sem saber o que falar...
E um ninho de conversas ali surgiu. E uma amizade também...
Unidos, um com o outro, por de alguma forma ter feito, cada um de sua maneira, aquela mulher feliz, nos tornamos grandes amigos e um, aprendeu a entender o outro. E a admirar também. Por pior que tivesse sido uma ou outra atitude (ou melhor), foi buscando a felicidade daquele anjo e, agora, anjo de verdade...
É o amor, meus caros. É o amor incondicional que não quer nada em troca. É o amor incondicional que não pede entendimentos e muito menos trocas.
É aquela força que faz o sentimento ir além da distância, das forças e da razão...
É aquilo que faz você mudar por completo uma forma de pensar, uma maneira de agir ou até mesmo uma vida toda...
É o amor, meus caros...


Marcelo Sendon

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